O médico infectologista Stefan Cunha Ujvari conta como o estudo dos microrganismos pode contribuir para a pesquisa histórica | ||||||
por Bruno Fiuza | ||||||
História Viva – Como a infectologia contribui para a pesquisa histórica? Stefan Cunha Ujvari – O estudo do material genético de microrganismos ajuda a esclarecer o que aconteceu no passado. Um exemplo é a peste de Atenas, que castigou a cidade em 430 a.C. Há muito tempo os historiadores debatem a natureza dessa doença. Alguns achavam que era varíola, outros falavam em sarampo ou diarreia. Pensou-se até em ebola. O mistério só foi desvendado na década de 1990, quando arqueólogos descobriram uma vala coletiva da época da peste. Eles quebraram a polpa do dente de algumas ossadas para ver se a bactéria causadora da epidemia tinha parado ali – porque, quando a pessoa morre, todo o organismo se decompõe, mas o dente fica preservado – e encontraram o DNA da Salmonella typhi, bactéria causadora da febre tifoide presente em água e alimentos contaminados. Outro exemplo é a descoberta do que levou à morte de parte do exército de Napoleão na Rússia, em 1812. Em 2001, foi achada na atual Lituânia uma enorme vala coletiva com mais de 2 mil corpos. Os restos de uniforme e os botões nas roupas indicavam que aqueles homens eram do exército do imperador francês. Novamente, os pesquisadores analisaram o material genético armazenado na polpa do dente desses cadáveres e detectaram a presença da bactéria do tifo, que é transmitida pelo piolho. HV – O que o estudo dos microrganismos revela sobre a chegada do homem à América? Ujvari – Um grupo de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz analisou fezes humanas fossilizadas – os chamados coprólitos – de múmias pré-colombianas e detectou a presença de um parasito, o Ancylostoma duodenale, causador do amarelão. Esse microrganismo não passa de pessoa para pessoa, porque precisa eliminar seus ovos nas fezes do portador. Se esses ovos caem em solo quente e úmido, eles eclodem e liberam larvas, que entram no corpo humano quando a pessoa pisa descalça nelas. Se esse microrganismo precisa de um solo quente e úmido e é disseminado pelo homem, não dá para esclarecer sua chegada à América pela hipótese do estreito de Bering. Se o homem chegou ao continente apenas por esse caminho, cujo solo era seco e frio, a disseminação da doença deveria ter sido interrompida. Isso reforça a hipótese de que o homem pode ter chegado à América também por embarcações. |
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domingo, 17 de junho de 2012
A genética ajuda a esclarecer o passado
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